Marcelo Dutra da Silva

Ajuda que Pelotas muda

Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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Vivemos em uma cidade linda e histórica, que reúne culturas e belezas naturais incríveis. Temos problemas? Claro que sim. Gigantescos, como qualquer grande cidade. Enfrentamos questões estruturais e conjunturais profundas, repetindo erros do passado, sem muita perspectiva de mudanças nas práticas da gestão pública, que parece desgastada e abraçada pela força do interesse econômico, sobretudo da construção civil.

Adotamos ideia equivocada de desenvolvimento, que concentra no crescimento econômico, à revelia do bem-estar social e proteção do meio ambiente. Tudo que torna extremamente difícil alcançar as demandas e necessidades apresentadas pelo coletivo de forças vivas que formam a cidade. Situação agravada pela falta de planejamento e de pessoas com conhecimento técnico nas respectivas pastas de governo.

Consigo imaginar o quanto é difícil compor equipe de governo com o mínimo de qualidade, ainda mais em tempos de governabilidade e eleições de base composta, com matizes ideológicas que, no máximo, se aproximam. Visões de mundo que provocam disputas, intrigas e traições... Um campo árido, que exige experiência, serenidade e prudência. O técnico vem depois e é ai que mora parte dos problemas, em qualquer esfera, seja na União, nos estados ou municípios.

O governo Paula Mascarenhas, por exemplo, me surpreendeu em diversos momentos. Vi muitas coisas boas e importantes serem realizadas, com certeza mais acertos do que erros, confirmados pela sua recondução ao cargo. Mas foram as decisões ruins, particularmente no campo do meio ambiente, que mais me surpreenderam.

Conheci Paula em 2003, na época assessora do saudoso deputado e ex-prefeito de Pelotas, Bernardo de Souza. Trabalhamos na elaboração de um pequeno evento na UCPel em alusão à Lei 11.895/03, que declara o arroio Pelotas "integrante do patrimônio cultural do Estado do RS". Era admirável seu envolvimento, que tornou possível o evento, a lei e, na sequência, no livro Diário de um patrimônio, em que tive o prazer de contribuir com um capítulo.

Portanto, por muito tempo tive Paula como referência política em defesa do meio ambiente, em especial na defesa do arroio Pelotas, mas o tempo mostrou que eu estava errado ou ela mudou por força da circunstância de ser governo. Fato é que, seja como vice de Eduardo Leite ou na qualidade de prefeita, as questões ambientais nunca ganharam protagonismo, nem mesmo no discurso. Sempre estiveram setorizadas, com uma ação aqui e outra ali. E isso não dá certo.

Na prática, a questão ambiental é transversal a qualquer projeto de governo. Ou seja, é um tema que transita por todas as pastas, mesmo que em algumas mais e outras menos. E quando isso não ocorre acaba por limitar-se ao papel desempenhado por uma ou outra secretaria, exatamente como ocorre aqui. E neste caso, não importa se o secretário é bom ou ruim, se é técnico ou não, o problema está no arranjo, na arquitetura do governo e como as questões relacionadas ao meio ambiente se encaixam.

O governo de Pelotas precisa de ajuda, inclusive dos adversários. Oposição se faz com inteligência e propostas. Ataques gratuitos são para os tolos e incapazes de formular argumentos úteis ao processo de mudança. Ataques desprovidos de ideias. E apesar das pessoas estarem mais conscientes e preocupadas, não temos movimento forte e organizado para lutar pelas questões ambientais. O alcance de alguns grupos é pequeno e falas individualizadas, como a minha, têm pouco efeito prático nas decisões do Executivo.

De outra parte, meio ambiente é assunto que interessa a todos e tem forte influência na vida de todos. Não à toa o mundo inteiro está olhando para o Brasil, aguardando mudanças que já se colocam na política ambiental, em defesa da Amazônia, dos povos originários, economia verde, melhores práticas... Pelotas não pode ficar de fora e precisará buscar novo ponto de equilíbrio na busca pelo desenvolvimento. Vamos ajudar que muda.

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